sexta-feira, 25 de maio de 2012

Kami

Kami


Era uma noite de inverno. Cada floco de neve que chegava ao chão parecia atrapalhar a concentração de Yedda. Ele estava nervoso, atento ao mínimo detalhe. Nada poderia dar errado ou sua vida chegaria ao fim.
Lágrimas escorreram pelo seu rosto. Neste instante uma voz sombria e gelada pronunciou os versos do Deus da Morte:

- bcdlf. Aemhi ( Pavehgaluror. Ungraphtalnagon).
Os brilhos dos olhos de Yedda numa fração de segundos sumiram, suas lágrimas misturaram-se ao sangue que escorria de sua cabeça e toda a sua vida passou como um filme em sua mente.

-Eu voltarei! – essas foram suas últimas palavras.
A neve branca e pura agora estava manchada de sangue e lágrimas de tristeza. A terra tremeu como nunca havia tremido, os ventos sopraram forte e os mares e rios estavam agitados. Os Deuses e elementais estavam tristes, lamentavam a morte de um grande herói. Estavam despedindo-se de seu velho amigo.
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Não nasci apenas surgi do imenso caos novamente. Possuo vagas lembranças de vidas passadas. Sou o veículo que os Deuses utilizam para que suas palavras sejam cumpridas na terra, o mundo não pode correr novamente o risco de ser destruído pelos primordiais.
Minha fé me conduz nos tempos de escuridão e terror. Sempre guiado pelos Deuses, seguindo seus ideais de bondade e pureza. Devo manter a ordem e destruir os espíritos malignos.

Minha magia é divina, os Deuses agem pelo meu corpo. A única coisa mais forte que minha fé é o fogo que uso para incinerar aqueles que ficam contra a vontade dos Deuses!
Não sei que ano, mês, dia ou horas é agora, a única coisa que sei é que estou de volta para cumprir minha missão e deixar meu legado.
Estou em um templo no meio da floresta, lugar sagrado onde posso sentir as energias do Deus Bahamut. Aqui diversas pessoas de diferentes raças vêm pedir a proteção e a benção do Deus Bahamut.


Vesti-me com o manto que estava sobre uma mesa próxima a mim. Dei meus primeiros passos em terra firme. Possuo um corpo de 25 anos terrestres, tenho cabelos brancos longos lisos. Minha pele é azul-clara e meus olhos totalmente brancos. Minha altura é aproximadamente 1,85, meu peso 80 kg.
-Mestre, enfim retornastes!
Quem disse isso foi um Clérigo Eladrin¹ de cabelos brancos longos e olhos azuis como o mar. Estava vestindo uma armadura de aço verde.
-Deixe-me apresentar. Sou Airass, sacerdote deste templo e presidente do conselho da Agrestia das fadas²! Vim assim que soube que o senhor renasceu neste templo.

- Olá Airass, pelo visto você conheceu a minha encarnação passada. Nesta vida irei chamar-me Eloia. Prazer em revê-lo – inclinei minha cabeça em reverência.

- O prazer é todo meu senhor! O senhor foi um grande guerreiro dos Deuses na vida passada, infelizmente foi assassinado por um bruxo das trevas que teve a ajuda do deus da Morte Gruumsh – disse Airass.

- Gruumsh, assim como Asmodeo sempre está criando confusão entre os humanos e os Deuses. Preciso achar o bruxo que me assassinou e impedir que ele continue fazendo maldades.

- Sim meu senhor, ouvi boatos sobre o tal bruxo recentemente. Parece que ele está levando o Caos e a morte por onde ele passa. As pessoas que se recusam a obedecer-lhe tem um fim cruel e vergonhoso. Ele mata-os e pendura os corpos para os corvos comerem em praça pública – disse Ariass com lágrimas nos olhos.

- Tenho que impedir que este monstro arruíne mais cidades e vilarejos. Pobre alma, não sabe oque o aguarda após a morte. Bom seria se eu conseguisse salva-lo do destino triste que ele tem. Cada um escolhe o seu destino, se ele se arrepender sinceramente e pedir perdão aos Deuses e aos homens que feriu talvez os Deuses tenham misericórdia dele na morte.

- Certamente meu senhor. Os Deuses são muito bons para todos que buscam sua ajuda. Agora vamos passear um pouco ao redor do templo para conhecer os peregrinos? – Convidou-me Airass.

-Será um prazer – respondi com um sorriso.

- Ah, quase esqueço de entregar-lhe suas armas. Espere um pouco aqui senhor que eu já volto – disse Airass, entrando na sala ao lado da que eu estava.

-Essa espada é o símbolo sagrado de Bahamut, e foi ele pessoalmente que lhe entregou. Este escudo é um presente que o senhor ganhou do Deus Pelor quando o serviu em uma missão. –disse Airass entregando-me a espada e o escudo sagrado.
- Umbaróreanna Airass! (Obrigado Airass!) –disse-lhe abraçando-o.

-Que isso senhor, apenas entreguei-lhe o que era seu. Pelo Visto o senhor não esqueceu a língua élfica! Fico muito feliz por isso. – disse Airass retribuindo o abraço com um sorriso largo no rosto.

-Agora vamos, os aldeões devem estar ansiosos para conhecer o senhor!
Segui Airass que me apresentou para todos os aldeões que ali estavam em peregrinação. Havia um brilho nos seus olhos, e um sorriso em suas bocas. Senti-me em casa, a recepção calorosa daquele povo me lembrava quando eu morava no mar astral, na alegre companhia dos Deuses.

-Senhor por favor me abençoe! 
Um elfo alto de cabelos brancos muito longos que carregava um cajado com cristais e vestia um manto verde estava me chamando.

-Senhor, por favor, a sua benção! É uma honra poder encontrar-lhe novamente nesta vida! Nunca pensei que ainda estaria vivo para contemplar-lhe novamente. – disse o elfo ancião ajoelhando-se diante de mim.

- Por favor, levante-se! Sou apenas um ser comum como todos vocês, as bênçãos apenas os Deuses podem conceder. – respondi-lhe com um sorriso amigável.

- Sou Strush, fui seu companheiro de jornada na encarnação passada. Tive a honra de batalhar ao seu lado! – disse Strush fazendo uma reverência.

- Prazer em revê-lo Strush. Agora me chamo Eloia e vim terminar minha missão.

-Creio que o senhor já ouviu do Sacerdote Airass sobre o bruxo que o assassinou na vida passada. Ele está solto por ai reunindo seguidores! Dizem que ele pretende declarar guerra contra o Imperador Eleise, ele quer tomar o trono do Imperador - disse Strush com um ar de indignação.

-Preciso deter este bruxo o mais rápido possível, não posso permitir que ele acabe com a paz que os povos lutaram tanto para conseguir – disse pensativo.

- Senhor, vamos prosseguir com nosso passeio, muitos querem conhecê-lo – disse-me Airass.

- Sim Airass. Mais uma vez, foi um prazer revê-lo Strush. Espero que nos encontremos novamente – disse, despedindo-me de Strush.
Por onde eu passava muitas pessoas pediam bênçãos, cantavam e dançavam. Estavam felizes com o meu retorno. Eram pessoas simples, mas pareciam possuir o segredo para alcançar a felicidade.

Caminhamos em volta de todo o templo. Assim que terminamos Airass disse que os outros sacerdotes e monges do templo haviam preparado um banquete para celebrar a minha volta.

- Antes do banquete eu gostaria de ficar só para meditar e pedir o auxilio dos Deuses – disse à Airass.

-Sinta-se à vontade senhor. Ficarei esperando pelo senhor na praça principal.
Finalmente um pouco de sossego. Agora eu poderia relaxar e meditar por alguns minutos.
Sentei-me na posição de Lótus e comecei a entoar o mantra do Deus Bahamut.

- Ando Nuquerma Bahamut Shieiri. Ando Nuquerma Bahamut Shieiri. Ando Nuquerma Bahamut Shieiri. (Graças vos dou Grande Deus Bahamut).

Após ter entoado o mantra cento e oito vezes, estava me sentindo mais leve e feliz.
De repente vem uma imagem em minha mente: Eu estava de frente ao bruxo que avia me matado.
Ele pronuncia os versos do Deus Gruumsh e tudo fica escuro. Nunca em minhas 107 encarnações eu havia visto um bruxo tão cruel como este. Era possível perceber em seu olhar o prazer que ele tinha em ver a dor. Sua alma era fria, mas ardia como o fogo do sétimo inferno. O ódio havia tomado conta de todo o seu ser. Ele já não estava mais vivo, porém também não estava morto. Não era mais um Eladrin, mas também não era um demônio. Algo sombrio havia acontecido no passado daquele bruxo que antes era conhecido como um sábio clérigo do templo de Pelor.

A sede por poder teria corrompido sua alma pura e angelical? Não há um ser vivo que conheça a história desse bruxo. Apenas os Deuses e os espíritos desencarnados conhecem seu passado.

O que pode levar um ser puro como ele que era conhecido como o mais sábio sacerdote a cometer crimes vergonhosos como esses? Ele promove verdadeiras chacinas apenas por diversão? Ódio? Do que e de quem? Porque as pessoas precisam pagar pelas magoas que ele possui?

Fiquei por um longo período meditando, tive diversas visões de vidas anteriores, mas o que mais me chamava atenção era aquele bruxo. O que levaria uma pessoa a cometer atos de crueldade como esses? O Amor e a compaixão não são sentimentos mais fortes que o ódio e a raiva? O prazer e a alegria de poder servir aos Deuses como seus mensageiros não são superiores a qualquer outro sentimento?

Eu não conseguia compreender. Para mim a maior alegria é poder servir aos Deuses.
Indaguei-me sobre diversas coisas. A Minha fé é genuína e pura ou eu apenas sirvo aos Deuses porque estou “acostumado”? Os Deuses realmente são seres tão sublimes e maravilhosos como pensamos, ou apenas são seres que fingem ser assim? Lembro-me claramente como vivia feliz no mar astral ao lado dos Deuses. Eu mesmo me sentia um Deus, poderoso, arrogante. Talvez por isso eu tenha encarnado como mortal para aprender a ser mais humilde e sincero em meus sentimentos.

Minha meditação foi interrompida por Airass.

- Senhor já é sete da noite. O Senhor meditou por cinco horas, todos estão aguardando o senhor para começarem a refeição.

- Desculpe-me Airass, estava perdido em meus pensamentos. Devo pedir desculpa a todos por fazer esperarem cinco horas.

Airass apenas sorriu e me guiou à sala de jantar.
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    1. Eladrins: Raça ancestral dos Elfos. São descendentes diretos das fadas.
2  2. Agrestia das fadas: Reino onde todos Eladrins habitam. Este reino aparece somente no crepúsculo e quando a estrela d’alva surge no céu.

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