segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sanghas

Sanghas – Um resumo



O assunto sobre o qual vamos tratar hoje é a questão das sanghas que falei em uma das palestras deste ano (2010). Formá-las, foi o que convidei a todos na mensagem do final do ano passado. Mas, antes de falar sobre as sanghas especificamente, peço que reflitam um pouco comigo...


Razão para a formação de sanghas


A primeira coisa que quero que reflitam comigo é o seguinte: vocês já repararam que o mundo globalizado está tornando todos em apenas um? Já repararam que as pessoas são iguais em qualquer parte do mundo? Que usam roupas, cortes de cabelo, tem comportamentos, etc., semelhante?


Sim, o mundo está tornando-se único e as pessoas cada vez mais ficam parecidas. Mas, porque as pessoas aderem a essa unicidade? Para serem aceitas, para poderem participar do mundo...


Por que estou falando isso? Para vocês compreenderem que fazem parte deste grupo, ou seja, que estão aderindo à humanidade para poderem ser aceitos por ela... Vocês agem imaginando que estão sendo vocês, mas estão apenas se tornando mais uma cópia do modelo planejado pelo mundo para os seres humanos.


Esta é a primeira reflexão que gostaria que fizessem... Mas, vamos a outra.


Para falar desta reflexão, vou citar o Dalai Lama. Ele diz o seguinte: Me surpreendo com os seres humanos. Eles perdem a saúde para poder ganhar dinheiro e depois gastam tudo para poder ter saúde de novo.


Mesmo citando o Dalai Lama, claro que não estou me referindo a dinheiro nem a saúde física. Falo que o homem perde a sua saúde mental e emocional correndo atrás do prazer, da satisfação dos seus desejos, para poder alcançar a paz. Ou seja, ele está em paz e a perde para alcançá-la... E o pior, nunca a alcança, porque está apegado a querer alcançá-la...


Esta é uma prática da humanidade e se encaixa bem dentro da citação que fiz. Para que vocês querem dinheiro? Para tê-lo? Não, para poder realizar seus sonhos, seja de consumo material ou de liberdade. Mas, para que querem realizar seus sonhos? Para ser feliz. Ou seja, os humanos são felizes, mas perdem a felicidade para alcançar a felicidade...


Por que estou falando destas duas coisas nesta reflexão? Para vocês entenderem que vivem assim...


Como disse antes, vocês fazem parte do grupo que se unifica sobre o padrão criado pela vida humana e este padrão passa pela perda da felicidade em busca dela mesmo... Ou não é assim que vivem? Perdem a felicidade com preocupação com o futuro esperando que o futuro lhes traga a paz?


Por vocês viverem inconscientemente este processo é que se faz necessário a formação de sanghas...


O que é uma sangha? É um grupo de pessoas ligados por uma afinidade. Neste caso, a afinidade que estou falando é não querer ser humano, não querer se padronizar pelo modelo criado pelo mundo, ou seja, ser feliz de verdade agora e não perder a felicidade em busca do prazer...


Esta é a razão fundamental para a criação das sanghas...


Por tudo o que foi falado, posso dizer que as sanghas são um refúgio para aqueles que querem fugir do padrão do mundo. Mas, para que realizar esta fuga? Para não ter o mesmo fim de todo ser humano...


Diz a lógica que todos que agem do mesmo jeito têm o mesmo final. Se todo ser humano vive preso ao ciclo do prazer e dor, ou seja, passa por momentos de sofrimento, quem vive igual a eles vivencia estas situações.


Sendo assim, as sanghas não são para todo mundo, mas apenas para aqueles que estão dispostos a buscar algo diferente para si. Quem gosta de sentir prazer e sabe que por isso paga o preço de ter sofrimentos, mas não se incomoda com isso, não deve buscar integrar-se às comunidades. Não porque isso seja vetado ou proibido, mas porque elas não possuem este objetivo...


Função das sanghas


O ser humano hoje é obrigado a conviver com o mundo.


As sanghas no seu início, eram comunidades formadas por pessoas que abandonavam tudo e juntavam-se num mesmo lugar para juntos viverem uma vida diferente. Hoje isso é impossível. Dentro do mundo moderno o ser humano precisa viver inserido no mundo, pois existem coisas que não são mais acessíveis para aqueles que vivem isolados no meio do mato.


Sendo obrigados a viver com o mundo, a mente do ser humano está o tempo inteiro trabalhando valores para prender este ser à vida viciada. Vou dar um exemplo disso, mas antes deixe-me explicar como isso acontece.


O trabalho do ser, como estamos vendo no estudo 'Em busca da felicidade' é libertar-se das verdades que a mente produz. Como disse recentemente, quando ele não faz isso, a mente consegue envolvê-lo transformando o que é apenas uma formação mental numa realidade. Vou explicar mais claramente...


A mente produz pensamentos. Estes pensamentos contém afirmações sobre a coisas. Estes pensamentos não espelham verdades, mas apenas formações mentais, ou seja, a visão humana da coisa.


Quando o ser está desatento, ou seja, aceita o que a mente fala como verdade ou real, esta informação é arquivada naquilo que chamamos de memória. Ou seja, quando a mente diz que uma pessoa não presta e o ser não desacredita disso, esta informação ficará gravada na memória. No momento oportuno a mente usará esta informação.


Ela não apenas usará, mas mostrará que aquilo foi aceito como verdadeiro ou real pelo ser, para que ele mais uma vez não consiga libertar-se do pensamento. Em outras palavras, a mente vai dizer ao ser assim: 'você mesmo aceitou isso como verdade'... Neste momento, para o observador da mente é praticamente impossível conseguir libertar-se daquele raciocínio, pois a lembrança de ter aceito aquilo não deixará.


Agora vou ao exemplo que queria dar. Se vocês tiverem condições financeiras, preferem comprar um produto de 'marca' conhecida ou desconhecida? Claro que é conhecida, mesmo que nunca tenha conhecido produtos daquela marca. Mas, porque a escolhe? Porque a propaganda lhe disse que aquela marca é boa, é a melhor...


Essa é a função da propaganda. Ela bombardeia a mente gerando verdades que o ser desatento aceita como real e depois, no momento certo, utiliza isso para manter a escravidão do observador ao mundo observado. E isso acontece o dia inteiro...


O observador, que não consegue apenas observar o dia inteiro, é bombardeado por informações o tempo todo que está consciente. É rádio, televisão, jornal, publicidade de rua, etc... A cada momento que o ser vacila na observação uma verdade se forma na mente e é arquivada na memória para depois ser lançada com a informação de aquilo foi aceito anteriormente.


Esse esquema mente/mundo, ou seja, formas/pensamento é muito difícil de ser detectado pelo ser que se propõe a ser apenas observador da mente. Como venho frisando, não há ninguém que consiga vinte e quatro horas por dia realizar a libertação da realidade criada pela mente.


Então, que solução há para isso? A primeira que nos vem á mente é fugir do mundo, mas isso, como já vimos no início, nos dias de hoje é impossível. A única outra saída é a sangha....


A comunidade daqueles que querem fugir do mundo, no momento da sua existência, proporciona aos que participam dela a oportunidade de esvaziar a memória, ou seja, de ver que aquilo que a mente diz só foi possível por causa de um vacilo do observador.


Vamos explicar isso melhor mais abaixo, quando falaremos do funcionamento das sanghas, mas por hora fica, então, a informação de que a comunidade dos que não querem ficar preso ao ciclo do prazer e dor existe para o ser ter a oportunidade de recarregar-se. Conscientizando-se das verdades que deixou criar, o observador se reforça para vencer as batalhas que a mente ainda o fará lutar.


Funcionamento das sanghas


Como funciona uma sangha? A sangha funciona através de encontros periódicos entre os seus membros.


O que se faz nos encontros da sangha? A mesma coisa que se faz nas reuniões que fazemos: camaradagem, conversas, confraternização, convivência com afins...


A reunião de uma sangha não é nada formal, um ritual, mas apenas o encontro de pessoas afins que se juntam para confraternizar. Ou seja, uma festa... Os seres que participam dela, como nas reuniões que fazemos, se confraternizam conversando, rindo, brincando, comendo, etc. Não há rituais, não há complexidade, não há programação do que ser feito: numa reunião de sangha cada um faz o que quiser, pois o importante é estarem todos reunidos...


A que leva esta reunião? A alcançar o objetivo da sangha: ajudar o ser que está disposto a libertar-se da mente a limpar parte das verdades agregadas à memória.


Como isso acontece? Através da interação das pessoas que estão ali, ou seja, através das conversas que acontecem.


O EEU é acima de tudo espiritualista, ou seja, sabe que este mundo é apenas um prolongamento do espiritual. Mesmo que neste momento estejamos lhes levando a abandonarem toda a perspectiva espiritual – isso para que possam trabalhar apenas como elementos que são compreensíveis pela mente humana ao invés de vivenciar apenas criações desta – não abandonamos a Realidade do Universo.


Em O Livro dos Espíritos estudamos que o pensamento é dado ao ser humano por espíritos (pergunta 459). Usando este mesmo ensinamento para a atividade da sangha, podemos dizer que as pessoas participantes da reunião terão suas falas guiadas para poder ajudar o afim.


Na verdade a sangha não é uma realização do ser humano, pois se assim fosse, seria da mente e neste caso de nada serviria. Enquanto a reunião ocorre no mundo material a comunidade espiritual que acompanha estes seres estará realizando trabalhos para que ela sirva aos seus propósitos. Como, aliás, acontece em todas as nossas reuniões que fazemos, mesmo que vocês não vejam isso acontecer.


Portanto, aí está o funcionamento da sangha. Ela existe através de reuniões de seres com um mesmo ideal onde as pessoas brincam, se divertem, se integram, ou sejam, são felizes...


Trabalhos das sanghas


Se as sanghas são reuniões de afins, isso quer dizer que só podem participar pessoas que estejam buscando libertar-se do mundo? Necessariamente não. Lembrem-se: não se acende um candeeiro para escondê-lo dentro do armário...


As sanghas existem para reabastecer aqueles que buscam libertar-se do ciclo do prazer e da dor, mas tem outra função: ajudar quem está preso nele a enxergar isso e ver que há uma forma de sair dele...


Nas reuniões das sanghas não precisam necessariamente estar aqueles que já estão nesta busca. Ela pode servir para ajudar aos que nem sabem que podem libertar-se disso.


Como? Para falar disso preciso falar de um dos trabalhos da sangha: o Núcleo de Apoio.


Digamos que você conhece uma pessoa que esteja passando por um problema e, por isso, esteja vivendo um sofrimento. Você que sabe que isso acontece apenas porque este ser não se transformou em observador da mente, mas vive aprisionado a ela, pode convidá-la a participar da reunião. Nela, envolvido pelo ambiente de camaradagem e conversando com os outros membros guiados pela espiritualidade, essa pessoa receberá armas para libertar-se desse ciclo. Por isso chamamos a este trabalho de Núcleo de Apoio.


A missão das sanghas não é só apoiar seus membros, mas pelo caráter universalista que adotamos, estar sempre pronto a apoiar quem dela necessite. Mas, não confunda isso com uma ação generalizada.


Não estou falando em abrir uma porta para a rua com cartaz convidando as pessoas para serem felizes, mas de atender quem lhe procura, ou quem a vida leva a lhe procurar. Estou falando em conhecidos ou desconhecidos que lhe abordam demonstrando a sua vontade de sair do momento que está vivendo.


Não se esqueça do exemplo dos 'socorristas' na literatura espiritual. Eles saem para ajudar os outros, mas só ajudam aqueles que querem ser ajudados. Lembre-se que nem todos querem sair deste ciclo, pois têm prazer em sentir dor...


Mas, como explicar esse processo para quem não tem contato com os ensinamentos que servem de base para a procura dos membros da sangha? Este é o outro trabalho das sanghas: o Centro de Estudos.


Para quem não tem a base dos ensinamentos que o leve a entender a necessidade de fugir do ciclo do prazer e da dor será necessário repassá-los. Para isso as sanghas possuem sempre pessoas aptas para este tipo de conversa, que não é para quebra de verdades arquivadas na memória, mas para transmissão da base.


No entanto, em todos os grupos que pretendemos estabelecer uma sangha ainda não existem pessoas preparadas para isso. Por isso, neste momento saibam apenas que isso é algo a ser realizado no futuro. Por isso, também, não vou entrar em maiores detalhes...


Finalizando


Aí está, então, em síntese, aquilo para o que convidei os amigos do EEU no final do ano passado. Maiores detalhes precisam ser conversados, mas como eles serão particularizados em cada grupo, este não é o momento de tocar neles.


Como disse na mensagem, para aqueles que quiserem atender a este chamado, estou à disposição não só para a formação e implantação das sanghas, mas também para dar um novo ânimo quando os participantes deixarem escapar a motivação. Para isso iremos a todos os lugares onde formos chamados...


No entanto, uma coisa quero deixar bem claro: visitar lugares apenas para passar ensinamentos não será mais possível acontecer. Até porque, acredito que para o próprio trabalho de apoio às sanghas o tempo será escasso.


Quem ainda estiver buscando ensinamento, ou seja, aprender alguma coisa, tem à sua disposição o nosso site onde estão mais de dez anos de conversas que trazem tudo que tinha para dizer. Além disso, estes dispõem ainda das palestras on-line que realizamos e que continuará a ser realizada com esta finalidade.

Que todos estejam em paz!





PAI JOAQUIM de Aruanda


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